terça-feira, 25 de janeiro de 2011

VIDA REAL SHOW


Esse é um conto duplo. Um dentro do outro. Quem escreveu o conto principal fui eu mesmo, Wanderson Silva de Souza. E nesse conto tem a personagem Samanta. Ela é escritora e escreveu um conto também. E ambos se chamam “VIDA REAL SHOW”.

“Eu apenas sintetizo religião, ciência, filosofia, história. Não sou dessa religião ou qualquer outra.”(Frase de uma moça que conheci num chat)

BETÃO COMEÇA A LER O CONTO:
“Num domingo de Noite:
O marido pergunta - Esta assistindo Robocop de novo?!
- Não, é o noticiário.
- Ué, então o tiroteio realmente atingiu a prefeitura do Rio com o prefeito presente nela?
- É, né?

Numa Tarde de terça:
A filha pergunta - Esta assistindo o “Zorra Total” ou “A Praça é Nossa”?
- Não, Fernanda. Os parlamentares realmente se deram um aumento real de mais de 60 por cento.
- Puxa, parece piada.
- É – responde a mãe secamente.
- Tá, eu vou assistir o futebol lá no meu quarto e...
- Eu vou com você.
- Ué, você não gosta...
- Mudei de ideia.



Numa manha de Segunda:
- Ué, isso esta assistindo algum filme da sessão da tarde emotivo?
A mulher responde – Isso aqui é um fato real, Felipe.
- Sério?! Então essa mulher realmente se dedica à tirar crianças das drogas e do trafico???
 Felipe se senta ao lado de Marcia.
- Filha, vem ver aqui. Rápido.
- Ah, mãe, tow vendo um clipe nervoso aqui na MTV.
- É uma noticia boa.
A filha vem correndo – Porque não falou antes, pai?!
Os pai e a mãe saem para seus respectivos trabalhos e a filha vai para o quarto telefonar para o mais novo paquera dela.
E, por motivos óbvios, toda a família se sente com animo renovado. Uma mera fagulha de luz serve para iluminar uma estrada escura.
Acho que já ouvi isso em algum lugar.”
BETÃO TERMINA DE LER O CONTO.
 O editor termina de ler o conto com atenção e comenta – Bobagem, isso é sentimentalismo, o universo não perdoa os fracos e a vida é sofrimento.
- Então não vai publicar esse meu livro?
- Vou. As pessoas acreditam nessas mensagens de conforto.
- Mas você não, né?
- Não, mas elas vendem bem. E isso me conforta.
- Ah, fazer a coisa certa pelo motivo errado conta?
- Essa é uma pergunta retórica?
- Não.
- Use essa pergunta como base para seu próximo livro, Samanta.
- Tá, certo. Você é um canalha, Betão.
Betão gargalha com gosto. Samanta e Betão tem intimidade suficiente entre eles para se referirem assim sem ser em tom de agressividade.
E Samanta pondera - Mas um canalha que publica meus livros.
- Vai passear um pouco com o Lenon, Marcia, amanha eu te falo o que achei dos outros contos.
- Tá bom, Betão. Beijos.
- Beijos.
Samanta não se deu conta de que Betão a chamou de Marcia.
Quando Betão desliga o Messenger. Ele pega de um livro que esta na sua cabeceira e começa a ler do ponto onde havia parado. No jornal da TV, uma senhora é resgatada com vida dos escombros e ele, ao ver tal fato, derrama uma lagrima discreta.
O livro que ele lê chama-se “O Pensamento Vivo de Maquiavel”.
“Quem quiser fazer profissão de bondade, não poderá evitar sua ruína dentre tantos que são maus.”(Nicollo Maquiavelle)
Mais, segundo acredita esse que vos escreve, alguns anjos estão disfarçados em meio aos caos do duro concreto para dar cobertura aos sonhadores para que estes últimos possam se expressar. Tão disfarçados que nem mesmo eles se dão conta. Aliás, o significado etnológico mais antigo do termo anjo(em grego) quer dizer mensageiro, senão me falha a memória.

Betão se levanta da sua cadeira e vai até a cozinha. Ele passa por uma porta espelhada e se mira.
Parado, olhando-se. Parado, espantando-se.
Ele se olha e se diz – Betão, você só pensa em lucro.
Quer ficar amargurado mas endurece o coração e se motiva – O dinheiro move o mundo, Betão. Você não tem essa casa de luxo e segurança num condomínio do Meier por ter sido bonzinho e ter vivido de sonhos.
Sorri e acende um incenso. Incenso, Betão?! Isso parece coisa de “artista-pensador-sensivelzinho”.(Uma ironia que parece querer criar um estereotipo de que quem usa incenso é necessariamente adepto desse ou daquele tipo de pensamento)  
Repete para si mesmo – Quem quiser fazer profissão de bondade, não poderá evitar sua ruína entre tantos que são maus.
Ele já foi sonhador, hoje ele edita livros de sonhadores. Livros que são escritos para leitores que precisam ter coragem para se tornarem sonhadores.
E, na TV: Um gay é espancado na rua por jovens homofóbicos. Essa agressão e produto do pensamento arcaico de seres humanos toscos.
Na TV: Uma mulher balzaquiana, insiste em se dedicar ao teatro, escrevendo, dirigindo e produzindo suas peças à despeito da desmotivação de sua irmã e de seu marido. Contando com a gratidão de seus jovens alunos e de suas amigas. Essa insistência dessa mulher de classe pobre da zona oeste é produto do pensamento nobre de seres humanos valentes.
A intolerância e a Perseverança. A sempre constante dança entre luz e trevas, o avançar  da Humanidade à cada momento em que ela transgride por AMOR e o recuar dessa mesma Humanidade à cada momento em que ela preserva a Tradição apenas para justificar a perpetuação de seu ódio por qualquer comportamento que ela não compreende e por isso teme.
Na TV: Mad Max passa de novo. Não, não. Não é a reprise dessa famosa trilogia da década de oitenta. É a matança da semana. Pior ainda, já que é vida real.
E na TV: Os Superamigos salvam mais uma vez o dia. Não, é apenas o Afroregae resgatando as esperanças de crianças e adolescentes nas favelas do Rio de Janeiro. Tanto melhor, pois é bom saber que tem super homens e mulheres maravilhas, de carne e osso e sem uniformes coloridos, trabalhando com ações afirmativas de arte e política em favor do semelhante.
É ficção ou realidade?
Parece pesadelo, mas existem supervilões na vida real.
Parece sonho, mais existem superheróis na vida real.           
E o que o editor Betão é então? Ah, ele é um daqueles Super Herois disfarçados, tipo o Mordomo Alfred, que da cobertura para a princesa guerreira Samanta publicar seus livros. Livros que falam de gente comum para gente comum ler. Betão se deu bem na vida. Mas não se enganem, os heróis não vivem só em farrapos e mulambos. Essa crença ainda é fruto do mito da “pobreza que santifica”. Será mesmo que classe social pode falar à favor ou contra o caráter de alguém?! Ou orientação sexual, ou credo?! Ou Será que são as ações que falam mais do que vai no coração das pessoas?! Muito mais do que sua conta bancaria, belas palavras ou quantidade de mantras, padre-nossos e frases de “O Capital” decoradas???   
Ah, e tem mais uma coisa: Sonhadores são pessoas comuns que sonham. Os sonhos são os que nos tornam heróis ou vilões, dependo do que se sonha para a vida ou dos recursos de que se utiliza para se alcançar esses sonhos, pois eu não corroboro a ideia de que os fins justificam os meios, como afirmava Maquiavel.
Betão pensa no que Samanta lhe falou – A coisa certa pelos motivos errados.
Samanta passeando com seu cachorro Lenon – Desde que ele continue editando meus livros, né, Lenon? Afinal, se uma pessoa se sentir motivada ao ler meus livros, já é bastante para mim. Esse é o meu sonho, Lenon. Ah, acho que vou escrever mais um conto sobre a Marcia. Dessa vez dela passeando com seu cachorro. Mas me inspirar sempre me dá fome. Vamos antes na padaria, Lenon.
O cão arfa de contente e abana o rabo.
Advinha?! Quero ver se ainda tem sonho, Lenon.
   
  Castelos de areia
Disfarces, mascaras, personas
Foto primeira tirada por Dimas com Wan como medelo.
Foto segunda tirada por Wan, da escultura do artista de rua Xavier.
Castelos de areia?!
Mas... afinal, não é a vida e tudo apenas um imenso castelo de areia???
Não são a tristeza e a alegria, a vilania e o heroísmo apenas  conceitos que mudam conforme o vento das culturas e dos costumes?
Os realistas que me desculpem, mas "o mundo é 'bão', Sebastião".


Assina essa viagem onírica: Wanderson "Poliana-com-pé-no-chão" Silva de Souza. 

Um comentário:

Dimas disse...

Para aquele que persevera no Caminho o fato de estar nele já é a recompensa ideal, ou em palavras de um homem muito sábio:
"O bom guerreiro só é guiado pelo desejo de servir e se detém.
Não se atreve a confiar no poder das armas.
Uma vez cumprido seu propósito, não se jacta.
Uma vez cumprido seu propósito, não se glorifica.
Uma vez cumprido seu propósito, não se orgulha.
Vence porque não pode menos, Mas não para engradecer-se."
(Lao-Tse no Tao Te King)