sábado, 19 de maio de 2012

A Síndrome do Estrangeiro I de V


TERÇA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2010
A Síndrome do Estrangeiro I
A Síndrome do Estrangeiro
Por Málu balona
A SEST- Síndrome do Estrangeiro é um distúrbio do comportamento, caracterizado por um estado mórbido de alienação, estranheza ao ambiente e/ou a pessoas, inadaptação, melancolia aguda, apatia, depressão, às vezes acompanhada de anorexia, podendo levar à morte prematura.
Esse processo poderia também ser chamado de: crise aguda de saudade, suicídio branco (morrer de desgosto), melancolia intrafísica (melin) precoce, melin infantil, saudade impessoal de origem desconhecida, banzo consciêncial.
É importante definir que o sentimento de irrealidade e estranheza em relação à vida humana, vivido pelo portador da SEST, reside no esquecimento temporário de sua origem extrafísica. Segundo essa hipótese, o(a) portador(a) é aquele que "nasceu e não sabe ", antípoda ao dito popular "morreu e não sabe".
No campo da Antropologia, encontramos a referência ao isolamento vivido por um pesquisador que em meio a uma cultura estranha, num sistema de regras exótico, não pode compartilhar os seus anseios e achados com os demais membros da comunidade.
Essa impossibilidade de comunicação - incomunicação é também sentida pelo portador da SEST que, embora vivendo aparentemente no próprio meio social, tem a sensação de pertencer a outra raça, outra cultura, falar um outro idioma, praticar um sistema de valores distinto, incompreensível para os demais.
O estrangeiro intrafísico sente-se exótico, distante socialmente segregado e marginal sem saber o porquê. O isolamento o impede de aplicar a cosmoética (conhecimento de outras vidas) que possui.
No campo da Medicina, pesquisadores afirmam que os sobreviventes de EQMs - Experiências de Quase-Morte passam por um período de readaptação ao próprio corpo, aos familiares e ao entorno social, após vivenciarem a experiência de projeção lúcida crítica.
São tantos os casos, que esse processo foi caracterizado por alguns autores como Síndrome de Reinserção, uma vez que os portadores apresentam um quadro específico e levam um tempo variável para adaptar-se, sendo que, na maioria das vezes, não conseguirão comportar-se de modo igual ao anterior à experiência.
Quando persistente, esse quadro gera a necessidade de um acompanhamento terapêutico especializado, já que toda a família estranha o novo membro. Os portadores sentem saudades da sua experiência extrafísica, ansiando por retornar ao lugar extrafísico, onde se sentiam tão bem. Mostram dificuldade, a partir de então, de retomar a vida do ponto em que deixaram. No entanto, a maioria amadurece e melhora como pessoa. Essa é justamente a condição do (a) portador (a) da SEST, que sente-se também recém-chegado de um lugar indefinido, sendo por esse motivo um membro estranho no e ao grupo. Contudo, neste caso, não há rememoração definida, o que só vem a dificultar ainda mais o entendimento da causa real da inadaptação.
O (a) portador (a) da SEST cedo compreende que é possuidor de um tipo de informação que não poderá ser compartilhada, já que os demais ignoram a existência de outros sítios por ele conhecidos algures. Muitos apresentam elaboração ultra-rápida do pensamento -taquipsiquismo, pescando no ar idéias e sensações. O taquipsiquismo é a condição rara em que a consciência, para utilizar com eficiência os dados que possui, precisa de maior rapidez no processo cerebral - mais sinapses. São Geralmente donos de inteligência e criatividade acima da média, mas vêem, no entanto; os seus esforços e talentos desperdiçados devido ao seu permanente estado de estranhamento perante a vida humana. Trazendo a idéia clara de que poderá facilmente invalidar os melhores propósitos de evolução, a consciência do portador da SEST acalenta os mais vívidos sonhos de liberdade. Nesse afã, ainda criança, muitas vezes declara ao grupo em que vive que quer ir embora o mais depressa possível, quer trabalhar, não se casará e nem terá filhos.
O grupo em que está inserido estranha tão bizarro propósito, vendo nessa atitude um perigo em potencial para todos: "Como não se casar e não ter filhos, se para isso viemos ao mundo? Como querer sair de casa cedo?" São choques de interesses e objetivos causados pelo desnível evolutivo.
Por toda uma sequencia de posições e posturas tão diferentes do grupo de inserção, o portador da SEST passa a receber dos que lhe são próximos alguns epítetos semelhantes aos abaixo relacionados:
ESTRANHO NO NINHO, PATINHO FEIO, ADOTADO, OVELHA NEGRA, BEBÉ DE PROVETA, ACHADO NO LIXO, DIFERENTE DE NÓS, OVO DE CHOCADEIRA, TURISTA, ET e MARCIANO.
Nessa fase, acentuam-se os sentimentos de rejeição. O medo de errar, a sensação de urgência, talvez fragmentos das recentes vivências extrafísicas malogradas fazem com que a consciência viva em desassossego permanente.
Com senso crítico apurado, avalia a tudo e a todos com bastante precisão. Contudo, devido à precária vida emocional, é incapaz de fazer uma autocrítica isenta, substituindo esta necessidade pela autodepreciação.
Essa incapacidade de autocrítica não lhe permite utilizar os verdadeiros talentos que já possui. A auto-estima frágil gerará um quadro agudo de insegurança afetiva.
A autoculpa permanente, a ansiedade diante da vida, poderá levá-la a longos períodos em ponto morto, num processo de inércia diante das suas dificuldades. A autoculpa é um elemento paralisador da evolução devido à sua atemporalidade.
Muitas consciências bem intencionadas perdem a oportunidade de fazer a “reciclagem”, a partir do efeito estagnante da autoculpa da qual não conseguem escapar.
O indivíduo com autoculpa não tem visão cronológica, e continua a fazer a presentificação ininterrupta de situações passadas.
Contrariamente à autoculpa paralisadora, a responsabilidade é atual e dinâmica, funcionando no aqui-agora, momento de poder do livre-arbítrio. Esse é um erro comum de abordagem vivido pelas consciências na luta pela evolução- E necessário saber trocar a autoculpa - inércia atemporal, pela responsabilidade - atuação dinâmica no aqui-agora.

Retirado e adaptado do livro: Síndrome do Estrangeiro de Málu Balona, Ed. IIPC, 2000.

Postado por ABC Imaginário às 15:50

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