segunda-feira, 19 de outubro de 2009
A Política e A Retórica em xeque no filme "Obrigado Por Fumar"
E muitas vezes se costuma lançar mão de todos os argumentos disponíveis para se triunfar numa negociação onde idéias e propostas disputam a supremacia.
E sobre a busca da argumentação mais eficiente é que trata o filme “Obrigado por Fumar”.
Muito ouvi e li sobre esse filme e em todos os comentários afirma-se que essa recente obra se configura num conjunto de vigorosos argumentos contra o hábito de fumar. Alguns mais entusiasmados chegam a apontar os fatos dessa narrativa como “provas” reais, ainda que de uma realidade alegórica.
Tão carentes estão por “porta-vozes” de maior expressão e envergadura intelectual do que eles próprios, os defensores da vida viram um filme antitabagista onde na verdade tinha um filme debruçado sobre questões de fundo e muito menos primarias.
Ora, o filme não tem como foco argumentar contra ou a favor do tabaco. Essa polêmica é apenas “pano de fundo” para a trama, onde sim, o cerne reside na própria arte da retórica.
Numa segunda leitura pode-se detectar um tema coadjuvante: O talento.
O talento que cada um tem e o uso (e o não uso) que se faz do mesmo.
O talento, que em sua origem etimológica deriva do latim, designava a moeda de troca, na Roma dos Césares.
Nessa conotação mais remota do termo “talento”, a monetária, temos um terceiro enfoque do tema: As relações de troca.
“Faço isso para pagar a hipoteca”. O que cada ser vivo, natural ou cultural, faz para obter o alvo de seus desejos e necessidades, quer sejam vitais, afetivas ou intelectivas.
Se eu preciso e não tenho, preciso procurar fora. Preciso do outro, que é aquele que esta fora.
Mas o que eu tenho que interessa ao outro, ao ponto desse fornecer a minha pessoa o que eu preciso?
E num sentido mais amplo, ainda que nosso talento seja outro que não o de argumentar, ainda assim precisamos desse expediente para convencer ao outro que nossa moeda de troca é adequada às necessidades dele.
E num sentido mais restrito, alguns de nós temos como própria moeda de troca a própria capacidade de argumentação. É o exemplo do personagem central da trama.
E, voltando ao personagem da trama, encontramos um lobista, persona “maldita” e demonizada pelo puritanismo contemporâneo.
A falha da defesa do ponto de vista das mentes voltadas para um radicalismo virulento esta em sacralizar a tal ponto as bandeiras as quais defendem e ao ponto de considerar essas tão poderosas em si mesmas e por conseqüência desprezar a necessidade de argumentação.
Essa atitude, a de se “colocar num pedestal” as causas em defesa da vida, transforma todos que são oponentes em monstros e portanto indignos de serem ouvidos. E não merecedores de que se perca tempo em construir argumentos para convencê-los.
O que se pensa é que a defesa da vida é algo tão obvio e “obrigatório do ser humano justo” que não se precisa convencer ninguém a tal. E que se já não o sabem, quer de modo inato ou adquirido, (mas nesse caso por seus próprios meios) são indivíduos desprezíveis e passíveis de repudio e exílio.
O personagem central, um lobista das empresas de cigarro, em nenhum momento foi menos humanos, nem para o bem, nem para o mal.
O diretor não cedeu a essa tentação do reducionismo fácil.
Os ideais não trazem em si uma legitimidade que os torna imperativos categóricos.
As linhas de pensamento que defendem a critica e a credulidade como excludentes entre si, já são crenças por carecerem, por puro desprezo, da argumentação.
E, no final, se é tudo crença, que vença o argumento melhor.
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Um comentário:
Achei o assunto bastante interessante só poderei tecer comentario após assistir ao filme, o debates de idéias é sempre produtivo. Um imenso e terno abraço. Regina
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