“Era um desafio difícil de aceitar até mesmo como desafio. “
O escritor para de ler um instante e olha para seu irmão.
- Que foi, Adão? Lê aí, cara. Tô ouvindo.
- Só to querendo ver sua reação, Lucas. Normal, cara.
“Moises aceitava bem as dificuldades com as quais sempre lidou desde muito novo. Mas agora com isso era impossível de lidar. Na rua, sem um recurso mínimo que lhe possibilitasse recomeçar. Até mesmo sua força intima estava sem um norte, sem uma direção. Justiça poética foi saber que o seu fim viria justamente daquele inimigo que ele sempre achou que não o atingiria.”
O rapaz depois de ficar um longo tempo calado, com cara de bobo, tenta balbuciar algo - Não estou compreendendo.
Seu irmão range os dentes e diz com raiva - Não?! É tão simples!!! Ele sempre esteve pronto para a batalha, mas se acostumou demais com os velhos inimigos de sua vida.
Sorrindo com ironia Lucas indaga- E agora ele esta velho demais para lidar com um novo tipo de desafio?
- Isso mesmo.
- Não vejo força nessa idéia – sentencia e se levanta da cadeira.
O escritor pega em seu braço com firmeza e retruca- Não sabia que agora você era tapado.
Adão olha de modo feroz para seu irmão. O irmão nada diz, Lucas apenas o encara com impaciência e depois olha para o relógio na parede. Adão percebe a violência de seu gesto e larga do braço do irmão.
- Ta bom, tá bom. Mas...
O irmão diz secamente- Ruim.
- Não pedi sua opinião.
- Ruim.
- Dane-se. Não pedi sua opinião.
- Pediu sim, Adão. Venha, vamos para o show. O Nirvana não vai esperar. Estou seco por umas cervas.
- Não vou. Ficarei aqui com Moises. Vai, vai. Vai logo, vai. Sei que você não aguenta ficar muito tempo parado.
- Tá bom, problema seu.
- É mesmo. Vai, vai. Vai lá se encachaçar.
- E a Laura vai ficar aí junto contigo, ensebando, diante dessa maquina de escrever neurótica?!
- Não é da sua conta.
- Tá bom. Mas eu vou falar pra ela ir com a gente.
- Tá certo, ela faz o que quiser. Minha diversão esta aqui.
- Hu-hum.
- Aháaaaa, tá certo, eu não vou sossegar até resolver esse impasse.
- Cara, você é neuróoootico!
*************************************************************************
Enquanto o Nirvana tocava no estádio, lá fora, os anos passavam num tempo diferente.
- Eí, uma gelada aí, xará.
-Pô, cara, o "Dão" não veio porque??
- Tá lá, no livro dele.
- Neurótico!
- Fala isso de novo, falaaaaa...
- Mas, rapá, tu "meRmo" fala isso.
- Euuu poooosso, "Dão" é meu irmão. "Qué" da licença de eu ver o show, carinha?!!!!
********************************************************************
O show prossegue de modo empolgante. Ou seriam as cervejas, destilados e outros elementos a tornar tudo mais encantador e fascinante?! Isso pouco importa naquele momento, pois tudo se passa nuns poucos minutos de muito SOM, ao passo que os anos se alongam para seu irmão escritor que ficou apenas com a parte da FÚRIA.
Kurt saiu (engatinhando) do palco, e Lucas bebeu uma lata de refrigerante porque estava já farto de tanta cerveja.
E...Quando Lucas voltou do show, os anos já tinham se passado de modo tão veloz que seu irmão, o neurótico e furioso Adão agora estava casado. Não com Laura, mas com Luisa. E tinham um filho de dezoito anos chamado Luiz.
******************************************************************************
- Oláaaa, o show foi bom. Deu mole, xará, de ficar ensebando aí diante dessa tela de computador neurótica.
Luiz meio sonolento - O tio e eu curtimos a vera.
- Sorte do Luiz que ele tem um tio jovem.
Luiz meio sonolento - O tio e eu curtimos a vera.
- Sorte do Luiz que ele tem um tio jovem.
- E não vai amadurecer tão cedo – diz sorrindo – e eu já nasci velho.
- Tá certo – vira-se para o sobrinho – Luiz, pega o copo pra eu beber um vinho aí.
Luisa faz cara feia.
- Táaa, faz mal misturar, to sabendo, Luisa.
Luiza sem vontade de dar sermão se levanta sem paciência e senta-se no sofá em frente de uma mesa baixa de centro, onde repousa o vinho chileno que ela sorrateiramente bebe sozinha.
- O irmão chega até a tela que a cunhada vem pintando faz uma semana.
Luisa o impede de olhar- Não quero que vejam antes de eu terminar.
- Ihhh, que casal neurótico, sô.
Adão da uma gargalhada e se levanta para pegar um copo de vinho.
- Esse acabou, Lu.
- Pega outro pra gente.
- Outro chileno?
- Só tinha esse de chileno - diz sorrindo.
- Pega outro pra gente.
- Outro chileno?
- Só tinha esse de chileno - diz sorrindo.
- Humm, vai vendo, espertinha.
- Eí, esta escrevendo o que agora, Adão – pergunta o irmão.
- Terminei o conto do Moises, alias, ficou tão grande – respira fundo – que transformei num micro romance.
- Conheço um cara na TV comu...
- Deixa, deixa...
- Que foi???
- Ah, lembra de quando eu queria escrever ele sendo derrotado justamente por se ver diante de um desafio inédito? Olha só, queria provar que...
- Lembro, lembro...
Luisa, que agora esta diante de sua tela, com um pincel na mão e na outra uma taça de vinho completa – que cachorro velho não aprende novos truques.
- Pois é, a idéia estava bem clara, faltava estrura-la dentro da trama. Eu sabia que ia ter um fim triste
- Você sabia não, né? Você decidiu que ia ter um fim triste.
Adão não se abala - Eu SABIA que ia ter um fim triste... Algo assim, que eu considero bem real, daí que...
- Você sabia não, né? Você decidiu que ia ter um fim triste.
Adão não se abala - Eu SABIA que ia ter um fim triste... Algo assim, que eu considero bem real, daí que...
Para de falar e fica calado, como que a esperar algo.
- Fala, cara.
- Tá, tá, é que...
- Ah, não. Vai, ai, fala, já sei que não vou gostar.
- Fala, cara.
- Tá, tá, é que...
- Ah, não. Vai, ai, fala, já sei que não vou gostar.
- Cara, eu venci um desafio. Lembra que sempre tive receio de escrever roteiro?!
- Lembro, lembro... vai, falaaaaa logooo, não ENROLA.
- É... pois é...
Adão se cala de novo.
- Não percebe, Lucas? Eu venci um desafio com a qual eu nunca tinha antes lidado. Eu aprendi um truque novo.
Lucas sorri satisfeito pelo irmão - Meu irmão - faz que vai abraça-lo, até que o irmão completa sua fala.
- É... mas aí eu entro em contradição com o meu roteiro. Como posso afirmar, como idéia central da trama que novos desafios para alguém na meia idade são como sentenças de morte se eu acabo de provar o contrario, na minha vida real?!
- Lembro, lembro... vai, falaaaaa logooo, não ENROLA.
- É... pois é...
Adão se cala de novo.
- Não percebe, Lucas? Eu venci um desafio com a qual eu nunca tinha antes lidado. Eu aprendi um truque novo.
Lucas sorri satisfeito pelo irmão - Meu irmão - faz que vai abraça-lo, até que o irmão completa sua fala.
- É... mas aí eu entro em contradição com o meu roteiro. Como posso afirmar, como idéia central da trama que novos desafios para alguém na meia idade são como sentenças de morte se eu acabo de provar o contrario, na minha vida real?!
- Ah, cara, você não tem que corresponder... ahhh, e depois você, você... ahhh, ariéguaaaaa, Deus é mais!
- Não, Lucas. É sério, meu. Esse roteiro não passa a verdade desse meu momento atual de minha vida.
- E daí que...? Daí que...?
- Recusei a proposta de filmar essa minha história. Tenho que rever...
- E daí que...? Daí que...?
- Recusei a proposta de filmar essa minha história. Tenho que rever...
Lucas nada diz, apenas da as costas para o Adão e se dirige até onde estão seu sobrinho e sua cunhada bebendo vinho. Lucas pega um copo e o enche de vinho. Adão se junta aos três.
Os quatro bebem em silêncio.
Até que todos começam a rir.
Os quatro bebem em silêncio.
Até que todos começam a rir.
- Depois dessa, eu até deixo você olhar meu quadro.
- Deixa. deixa, eu assumo: Somos uma familia de neuróticos.
- Deixa. deixa, eu assumo: Somos uma familia de neuróticos.
Autor: Wanderson Silva de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário