terça-feira, 9 de março de 2010

LOBO CINZENTO

Caminhava preguiçosamente.

Não tinha pressa. Apenas as horas do tempo regiam seu tempo sem tempo.
Parou diante de minha casa. Fixou seu olhar no meu.
O lobo queria mais fogo. Seu fogo era velho e calmo. Eu tremi.
- Vem aqui.
- Espere...
- Por favor, não se demore.
- Estou...
- Que faz na janela?
- Vendo um...
- Ahhh... certo, certo.
- Venha aqui. Preciso de você.
- Não tenha medo.
- Medo?! Não tenho medo. Apenas sinto frio.
O frio era apenas interior. O calor era imenso e ainda assim seu corpo se fechava num abraço em si mesmo como a tentar conter todas as dores do mundo que havia acumulado em seu poucos anos de vida.
- Venha aqui. Quero lhe falar.
O lobo não estava mais lá.
Aproximei-me de seu olhar suave e vi o que queria me dizer.
- Agora você sabe: Eu não vou ficar muito tempo com você.


No dia seguinte... o sol parecia ser eterno e vi um lobo passar por entre nós e nos ignorar solenemente.
- O que foi?
- Você vai rir do que vou dizer. Eu vi... acho que vi um lobo. Senti um lobo passar por entre nós.
- Há, há, há... tem razão. Isso é engraçado.
- Estava doente ontem. Parecia tudo tão cinzento e frio.
- Eu não estava doente.
- Estava sim. Me disse que não ficaria muito tempo comigo.
- Foi um sonho seu.
- O lobo foi sonho.


O lobo passou por entre nós e eu senti um calor absurdo. Era um dia quente de verão. Mas o verão passou, assim como o lobo.
- Vem aqui, preciso de você.
- Quer me falar algo?!
- Sim, sinto frio.
- Deve ser o lobo que fica nos olhando.
- Não vou ficar muito tempo com você.
- Eu sei.
- Sabe?!
- Vejo em seus olhos isso.
- Não tem medo dos tempos futuros continuarem cinzas??? Sinto-me tão mal.
- Isso passa.


Na noite de um inverno rigoroso, tomávamos leite com mate e assistíamos um programa ruim de TV.
- Acho que vi um lobo.
- Quer trocar de canal?
- É um cão. É matéria estúpida de inutilidade pública.
- Sinto um friozinho gostoso.
- Como!? Faz um calor tremendo! Eí, a luz apagou.
- Viverei para sempre. Sinto-me tão bem.
- Isso passa.

Assina esse conto alguém: Eu Wanderson

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