sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

VOLTA DO MUNDO

Nunca gostei de Mariana.

Ela é de uma franqueza cruel e se compraz em maldizer e hostilizar tudo que faço e represento.
Antes, achava que era minha tendência a sempre pensar nas pessoas como naturalmente antipáticas. Mas não. Não no caso de Mariana. Ela eu sei que tem especial rejeição por mim. Já comprovei isso em inúmeras ocasiões. E, na entrevista que nosso grupo concedeu hoje, constatei sem nenhuma sombra de dúvida a nossa inimizade.
Mariana não deixou-me ter direito à palavra um único instante da entrevista. Ela me eclipsou e eu JAMAI ESQUECEREI DISSO.

- O mundo dá voltas. Foi só o que pensei depois que ela deliberadamente impediu que eu me expressasse ao jornalista.
Desejei do fundo de meu coração: Que o mundo desses voltas.
Dizem que quando desejamos algo muito intensamente, esse algo acontece. Sempre tive fé nessas coisas.
UM DIA MARIANA VAI PRECISAR DE UM FAVOR MEU.

Duas horas depois, Mariana e eu conversamos sobre uma real e inesperada necessidade de uma de nós duas.
- Escute aqui...
- O quê... tenho o dinheiro para seu taxi. O que quer dizer?
- Você tem?! Vai me emprestar???
- Lógico, Claudia. Eu não deixaria você voltar para casa sozinha e a pé, numa hora tão tarde. Pode ficar a vontade para decorar o texto na casa de Marco. Na volta, vá de taxi.
- Depois eu...
- Claro. Depois você me paga a grana.
- Obrigada, Mariana.

E o mundo deu voltas: NESSE MESMO DIA, EU PRECISEI DE UM FAVOR DE MARIANA.
O mundo da voltas... Bobagem! Nunca acreditei nessas coisas mesmo.
Grande bobagem... o universo conspira mesmo contra minha pessoa.

No fim, quando fui agradecer Mariana, ela, com um sorriso displicente, retruca: Bobagem, Claudia. Não foi nada demais. Hoje foi você que precisou. Amanha pode ser eu que possa precisar de você.
- É, Mariana. O mundo da volta.
- Acredita nisso?
- Sim... não... sei lá, nunca se sabe.

Conto de Wanderson Silva de Souza

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